Por Carlos Pessoa no Público online, 15, Fevereiro 2012

Uma exposição do Museu da Franco-Maçonaria do Grande Oriente de França, em Paris, revela que Hugo Pratt, o criador de Corto Maltese, era maçon, tendo sido iniciado em 1976 na Loja Hermes, em Veneza.

A confirmação desta filiação foi feita por Pierre Mollier, director do Museu da Franco-Maçonaria ao “site” Actua.BD: “Ele foi membro daquela loja até ao final da sua vida. Foi muito assíduo entre 1976 e 1986. Depois, ele vivia em Paris e na Suíça. Foi um pouco menos assíduo, mas aparecia regularmente.”

A exposição, intitulada “Corto Maltese ou Os Segredos da Iniciação”, percorre a obra do artista italiano, propondo uma leitura diferente, à luz do universo maçónico e dos seus preceitos fundamentais. No entanto, a mostra é mais abrangente, dando a conhecer aguarelas e pranchas que ilustram o interesse de Pratt pelos elementos totémicos e objectos votivos, a par de uma série de máscaras. Didier Pasamonik, autor do texto publicado pelo “site”, fala da “mania do segredo” de Hugo Pratt, que “tinha um gosto vincado pelas organizações esotéricas”.

Entre os elementos mais interessantes que estão expostos contam-se o avental e a banda do próprio desenhador e o catecismo (um manual de instruções em forma de diálogo) de iniciação a Mestre Secreto, quarto grau do Rito Escocês Antigo e Aceite. Também pode ser vista a espada flamejante que pertencia à Loja Hermes, de Veneza, roubada pelo pai de Hugo Pratt, o fascista Rolando Pratt, durante o assalto às instalações da loja em 1924, por ordem do ditador Benito Mussolini. Esta espada terá sido devolvida à loja pelo criador de Corto Maltese no acto da sua iniciação.

A exposição termina com a apresentação de algumas pranchas inéditas da banda desenhada “Fort Wheeling” (em dois volumes, 1961-62 e 1981), desenhadas por Pratt pouco antes da sua morte, em 1995, mostrando uma iniciação maçónica de acesso ao grau de Mestre Secreto. Constituem, segundo os organizadores da exposição, “o testamento maçónico” do próprio Hugo Pratt, tendo sido adquiridas à família do autor para integrar o espólio do museu.

Para Dominique Petitfaux, autor de dois livros fundamentais sobre Hugo Pratt e a sua obra (“O desejo de ser inútil”, edição portuguesa da Relógio d’Água, e “Hugo Pratt, de l’autre côté de Corto”), a revelação desta dimensão iniciática do criador veneziano é apenas uma meia-surpresa, segundo disse ao mesmo “site”: “Não sendo maçon, eu não me sentia habilitado a interpelá-lo e estou contente que os maçons o tenham feito. Registo que não o tentaram anexar, pois Pratt era franco-maçon mas era também muitas outras coisas. Interessava-se pelo culto vudu, por exemplo.”