Texto de Aida Teixeira | Foto: Kuentro

Corria o ano de 1976, ainda tudo muito quente da recente revolução de Abril de 74, quando surgiu, pela primeira vez, no escaparates, a heroína nacional, de seu nome Zakarella.

O nome da nossa heroína foi, claramente, baseado em heroínas não nacionais já existentes, e que faziam grande sucesso fora de Portugal - Barbarella, e Vampirella.

Roussado Pinto (escritor/jornalista), e Carlos Alberto (pintor/ilustrador), ambos trabalhadores da extinta Portugal Press, tiveram a ideia de, aproveitando o talento de ambos, criarem a nossa Zakarella. E assim foi durante 28 revistas.

A partir de 1978, data de saída da revista n° 28, nunca mais ninguém soube da Zakarella, apareciam umas revistas à venda, de vez em quando, nos alfarrabistas, apenas isso.

Mas, pelo menos no seio dos amantes da Banda Desenhada, da Pintura, e da Ilustração (sim as maiúsculas são propositadas, porque são merecidas), a Zakarella nunca foi esquecida, e a prova disso é o seu reaparecimento. Difícil mesmo foi "como encontrar o Carlos Alberto?"

Sabem que mais? As redes sociais são muito úteis, podem falar mal à vontade, dizer que tiram produtividade (e tiram), que as pessoas perdem mais tempo ali do que a conviverem com amigos reais (e é verdade), mas foi através de uma rede social que o Nuno Amado conseguiu chegar até ao Carlos Alberto.

Um muito obrigado ao Henrique Marques, que não me conhecendo de lado nenhum, me ajudou, só porque sim, puro altruísmo. E que dizer do Carlos Alberto? É um Senhor (sim, a maiúscula também é propositada, porque também é merecida), de uma simpatia sem limites. Já nem ele se lembrava que um dia tinha desenhado a personagem Zakarella, foi com um sorridente "nunca mais pensei nisso" que se voltou a lembrar dela, e nos disse "Agora até tenho medo dos desenhos que fiz, acho que ali soltei os meus demónios. Tinha outra idade."

Em 2010, o Carlos Alberto, cedeu-nos os direitos de autor que tinha sobre a personagem, e nome da Zakarella. Aí começou nova aventura.

Encontrar um desenhador que apanhe o espírito da personagem, não é fácil. E que depois o desenho resulte, exactamente, como se pretende, é ainda mais difícil.

Foram tentados alguns desenhadores, mas o resultado não era o pretendido, nada em desabono dos desenhadores, que são bons, e com provas dadas, mas faltava-lhes o tal "espírito", e a demanda continuou até encontrar-mos a Jô Bonito, que ao vencer um "desafio" feito no blog "Leituras de BD", nos mostrou que, mesmo sem conhecer bem a personagem (não tem idade para ter acompanhado a saída das revistas em 1976, uma vez que ainda nem nascida era), lhe captou o tal "espírito", "determinação", e "garra".

E cá estamos, à espera que a Zakarella nos mostre a sua valentia, o seu lado mau (que todos temos), o seu lado bom (que alguns vão tendo), e que nos conte, o que andou a fazer, escondida, estes 36 anos.