Texto: Diogo Campos | Foto: Kuentro

Miguel Mendonça é mais um caso de sucesso de um português a trabalhar para o mercado norte-americano de banda desenhada. Como muitos da sua geração, teve contacto desde cedo com as 3 vertentes mundiais da banda desenhada. Através de influência do irmão mais velho conheceu os clássicos franco-belga e, já em adolescente, o contacto com a BD deve-se à mangá e aos comics norte-americanos através do Dragon Ball e Morte do Super-Homem respectivamente. Tentando imitar os desenhos animados que via na televisão, prometeu a si mesmo em 3 anos (tinha então 10 anos) desenhar melhor do que um amigo dele de 13 anos. A dedicação da juventude não esmoreceu e mais tarde entra no Núcleo de BD de Olhão, de onde é natural, onde teve mentoria do autor Carlos Rocha. A partir deste núcleo participou num pequeno curso de BD que gerou uma exposição e participações em diversos concursos.

Sempre influenciado pelas 3 grandes escolas mundiais de BD, o seu estilo de desenho foi evoluindo rapidamente para uma amálgama de estilos. Na narração e storytelling, Miguel encontra-se algures entre o dinamismo dos comics norte-americanos e da BD europeia. Vinhetas espaçosas e com um storytelling simples adicionando dentro de cada vinheta uma energia e dinamismo própria dos comics. O estilo de desenho das personagens com poses dinâmicas, figuras esbeltas e traço simples é também em si uma mistura de influências orientais e americanas.

Ao procurar a BD no ensino superior, depara-se com uma falta de oferta nesta área acabando por se matricular em design. Devido a esta formação, interessou-se por outras áreas como design gráfico, web design, ilustração o que o fez afastar-se da nona arte. Após a formação e alguns anos dedicados em exclusivo à área do design, a verdade é que a nona arte nunca esteve longe pois dedicava-se a fazer esquiços durante os tempos mortos de expediente. Tendo-se desinteressado um pouco pelo design, voltou novamente aos desenhos e em 2012 deslocou-se ao Festival Internacional de BD de Beja munido de portfolio e em busca de críticas e oportunidades. Neste ano deu-se uma viragem no seu percurso profissional. Tendo-se perdido um designer, a nona arte ganhou um novo talento que mostra o seu trabalho através de fóruns internacionais e do Deviantart. Aqui começou a receber encomendas de comissões e entre propostas de trabalho e candidaturas a várias editoras, a Zenescope acaba por lhe pedir para fazer 11 páginas para o título Grimm Fairy Tales: Unleashed # 1.

Após esta participação no universo adulto de contos de fadas que a Zenescope criou, uma tendência repetida por diversas outras editoras norte-americanas, Miguel tornou-se presença constante nos títulos da editora em Grimm Fairy Tales Unleashed #5, Oz #4, Tales from Oz #2: Cowardly Lion e está actualmente a desenhar a mini-série Warlord of Oz.

Em paralelo encontra-se também a trabalhar no projecto Sidekicks, fruto de uma campanha de crowdfunding, onde trata da arte a lápis e arte-final ficando as cores a cargo de Sara Machajewskie e argumento de Russell Brettholtz.

O próximo objectivo será perseguir o american dream dos autores de BD, participar em títulos das grandes editoras americanas e também publicar algo creator-owned.