Texto de João Miguel Lameiras | Fotos de Kuentro

Se há revistas que marcam gerações, para os leitores portugueses que a descobriram nos finais da década de 80 nos quiosques nacionais, a revista Chiclete com Banana, é uma dessas revistas. Para além de um humor tão surpreendente como irreverente, a revista deu a descobrir aos leitores nacionais o trabalho de Laerte Coutinho que nessas páginas estreou Os Piratas do Tietê, série que graças ao sucesso atingido, rapidamente ganhou a sua revista própria, no início dos anos 90. Um título mítico que a editora Devir recentemente recolheu em três luxuosos volumes, que se encontram com facilidade nas Livrarias nacionais. Excelente desenhador, com apurado sentido narrativo, e um grande jogo de sombras, Laerte cria aqui uma obra-prima do humor surreal ao transpor um grupo de piratas sanguinários como havia nos séculos XVII e XVIII, para a cidade de São Paulo contemporânea, onde vivia o autor (o Tietê do título é o poluidíssimo rio que banha a cidade de são Paulo). Entre as dezenas de histórias que Laerte criou com os seus piratas, o meu destaque, mais do que natural, vai para "O Poeta", uma história que conta com a participação especial e diálogos (extraídos dos seus poemas) de Fernando Pessoa, em que se prova que a poesia pode ter mais força do que as armas dos piratas, e que é uma das mais belas e divertidas homenagens jamais feitas ao poeta português. Mas Fernando Pessoa não é a única personalidade que Laerte vai buscar para contracenar com os seus piratas, também o Fantasma e a sua namorada, Diana Palmer, personagens criadas por Lee Falk, têm uma importante participação em "Vozes da Selva", uma história em três partes, em que Diana descobre que a vida junto dos Piratas do Tietê pode ser muito mais divertida do que ao lado do Fantasma.



Mas a mais memorável participação de um herói da BD numa história dos Piratas do Tietê, é, sem dúvida, a de Batman em "A Terceira Margem", uma história delirante que nos mostra o Batman mais surpreendente desde o "Cavaleiro das Trevas" de Frank Miller e em que é finalmente revelado o segredo do morcego, segredo esse que os leitores que leram a historia nunca esqueceram... Apesar da força e do carisma dos Piratas do Tietê, a carreira de Laerte Coutinho não se limita a esta série e o público de Beja vai poder descobrir toda a versatilidade deste mestre do humor gráfico, nascido em São Paulo, no Brasil, em 1951 e que, depois de uma passagem pelo Festival da Amadora, em 2001, volta a expor o seu trabalho no país de Fernando Pessoa.