Entrevista com Jussara Batista, para a revista Paço

José Aguiar é arte educador formado pela Faculdade de Artes do Paraná e quadrinista com obras publicadas no Brasil e exterior. Em seu mix de aptidões também é Ilustrador, roteirista e editor da Quadrinhofilia, seu selo independente de quadrinhos. Foi premiado com o Troféu HQMIX, Angelo Agostini e no I Concurso Internacional de Quadrinhos, SENAC/SP. Em mais de uma década de carreira publicou diversas obras, como Vigor Mortis Comics e Folheteen- direto ao ponto, considerada uma das melhores HQs publicadas ano passado. Na França, ilustrou para Éditions Paquet duas HQs da série Ernie Adams e participou de Un jour de Mai (coletânea). Além de publicar as tiras Folheteen e Nada Com Coisa Alguma no jornal Gazeta do Povo é cocriador e curador do Cena HQ, projeto de leituras dramáticas no Teatro da Caixa e também da Gibicon - Convenção Internacional de Quadrinhos de Curitiba em Curitiba. Também realiza o Ciclo de Quadrinhos, série de palestras sobre cultura pop nas Livrarias Curitiba. Entre tantas atividades atualmente Aguiar está desenvolvendo a Oficina de Quadrinhos Autorais no Sesc Paço da Liberdade.

José Aguiar, um prazer tê-lo em nossa grade de oficinas novamente, visto que em 2013 pudemos contar com a sua parceria. Nos apresente um pouco do quadrinista! Sabe-se que você publicou o primeiro trabalho para um suplemento infantil, aos 14 anos, quais eram suas referências na época? Elas ainda te acompanham?
É sempre um prazer voltar a lecionar quadrinhos. Eu sou produto das oficinas da Gibiteca de Curitiba e a cidade tem uma demanda enorme de cursos voltados a essa arte. É muito bom poder incentivar novos autores através de cursos como o que oferto aqui no Sesc. Eu realmente publiquei pela primeira vez aos 14 anos, antes de descobrir as oficinas de HQ, na extinta Gazetinha da Gazeta do Povo. Era uma tira chamada "O Boi". Aos 16 já estreava profissionalmente no antigo Jornal do Estado. Naquele tempo minhas referências eram Jim Davis, Mort Walker, Laerte, Fernando Gonsales e Bill Waterson. A excessão do criador do Garfield, que abandonei logo no começo de minha carreira, os outros seguem comigo até hoje. Além deles os quadrinhos de super-heróis e do selo adulto Vértigo me marcaram. Hoje meu leque está maior, mas tenho enorme carinho por esses ícones todos.

Além de criador você também apoia futuros quadrinistas, tornou-se professor e possui um vínculo direto com a divulgação da linguagem. E seus incentivadores, quem foram?
Eu comecei a frequentar a Gibiteca num momento ímpar. Na décadada de 1990 ela estava no seu auge de suas atividades em contraste com um mercado inexistente para autores nacionais. Mas lá, além de bons professores, encontrei ótimos amigos com sonhos semelhantes aos meus. Naquele espaço nós dávamos muito ânimo uns aos outros com nosso fanzines, exposições, palestras e debates. Meu trabalho com eventos relacionados a HQs vem desde essa época em que parecíamos ser os únicos a acreditar que quadrinhos são arte e que, sim, é possível viver deles profissionalmente. Hoje esse pensamento se multiplicou verdadeiramente.

Hoje você é sócio fundador da Quadrinhofilia Produções Artísticas, mas como foi sua entrada neste mercado de trabalho?

Antes da Quadrinhofilia acontecer, eu já havia sido sócio em dois estúdios de ilustração que ocasionalmente faziam quadrinhos. Foi um grande aprendizado, mas em 2004 decidi enfim focar nos meus ideais. Eu queria ser um "Quadrinista", um autor, e não um executor de ideias alheias. Consegui publicar e morar na Europa, depoi?- retornei decidido a fazer meus projetos pessoais acontecerem. Apesar de ter iniciado cedo nos quadrinhos, antes dessa virada profissional, para encontrar trabalho eu seguia o que o mercado editorial ditava. Nos últimos anos meu foco, através da sociedade com a Fernanda Baukat, tem sido criar modos de viabilizar minhas próprias ideias, aos mesmo tempo em que difundo a cultura dos quadrinhos a diversos públicos.

Quais os aspectos fundamentais para que os futuros quadrinistas (muitos podem estar passando pelos seus cursos) garantam a dimensão autoral de suas obras? Além de saber desenhar, é preciso...

É preciso saber ler e escrever com muita autocrítica. Desenhar "bem" hoje em dia é a menor das preocupações. Quadrinho autoral é voltado as boas histórias. Existem ótimos ilustradores que são péssimos quadrinistas por não saberem narrar boas histórias. Você não precisa ser um mestre no desenho para fazer uma ótima HQ. As HQs tem sim forte apelo visual, mas se não há conteúdo aliado a uma narrativa eficiente, ela não funciona. O quadrinista autoral também é aquele que não teme ser responsável por todos os processos de produção. É aquele que não se furta de colocar os livros nas costas e se promover nos eventos, feiras de livro, internet... É necessário ser empreeendedor pra ser quadrinista hoje em dia.

Por fim, ainda tem interesse em estabelecer a oficina de Histórias em Quadrinhos como uma atividade de caráter permanente no espaço do SESC Paço da Liberdade? Conte-nos um pouco dessa ideia!

Curitiba tem uma forte tradição nos quadrinhos. Temos diversos eventos locais sobre cultura do quadrinhos que acontecerão o ano todo mesmo após a próxima Gibicon, que se sedimentou como um dos grandes eventos do gênero no país. Atualmente estamos vivendo um "boom" de autores. Para este ano estão previstas 17 publicações de autores locais, a maioria independentes. Número que pode aumentar consideravelmente até o fim do ano. Esse é um ótimo termômetro da vocação para os quadrinhos locais. A manutenção de cursos permanentes faz com que se potencialize ainda mais os artistas que estão a surgir. A Gibiteca tem a tradição de oferecer cursos de formação para os iniciantes. Aqui no Paço é possível fomentar outro passo na formação desses artistas, que depois de algum tempo ficam sem orientação profisisonal. A ideia é dar espaço e orientação para novas gerações de autores, que vão depontar em breve, para debater com colegas e incentivar parcerias. O potencial é enorme e o momento é ótimo para quem quer criar quadrinhos autorais, pois esse tipo de HQ tem aceitação mundial.

O curso (Quadrinhos Autorais: Teoria e Prática) tem como objetivo levar o interessado a descobrir seu próprio caminho, a fim de tornar-se um autor com voz e estilo próprios, conquistando seu espaço no mercado editorial e leitores. Serão abordados processos de criação de roteiro, conceitualização de personagem e universo, estrutura de narrativa, entre outros temas importantes da linguagem dos quadrinhos através de debate e análie de obras conceituadas no universo das HQs. Trata-se de uma oficina para o profissional que deseja se reciclar ou que deseja iniciar carreira pela arte sequencial.Para saber mais!

Duas palavras...

José Aguiar é Super!!!! Tenho orgulho de ser amiga dele, de dizer que ele é uma fabulosa cria da Gibiteca de Curitiba e é sinônimo de sucesso dentro e fora do Brasil... . isto é fantástico!!!!! Seu fabuloso trabalho com traços limpos, lindos, elegantes, ricos em detalhes, retratando Curitiba ou em qualquer outro lugar que ele esteja. Grande amigo e companheiro de trabalho, cresceu no meio dos quadrinhos e hoje os divulga maravilhosamente assim como os faz!!!!

Maristela Garcia da Gibiteca de Curitiba