Texto de Francisco Paixão | Foto: Kuentro.

A cidade de Beja foi muito importante durante a romanização do actual território português.

Denominada Pax Julia foi capital de Conventus Juridicus (circunscrição jurídica) juntamente com Scallabis Julia (Santarém) e Emerita Augusta (Merida), esta última capital da Lusitânia. Foi colónia romana – os seus cidadãos tinham o mesmo estatuto dos cidadãos de Roma –, e por aqui passava uma importante via romana (estradas vitais para a sobrevivência do império romano). Sendo capital de Conventus, administrou juridicamente umas das regiões da Lusitânia (todos os problemas jurídicos a sul do Tejo eram aqui resolvidos), estava administrativamente acima de Felicitas Julia (Lisboa) ou de Ebora (Évora). Assim, a cidade possuía um conjunto de edifícios públicos de relevo, com destaque para um templo de enormes dimensões e um grande Fórum, situados muito perto da actual Praça da República. Infelizmente, devido às demolições ocorridas durante séculos, não foram encontrados vestígios de outros edifícios característicos da urbe romana como, por exemplo, o teatro e o anfiteatro.

Escavações arqueológicas recentemente efectuadas puseram a descoberto as estruturas do templo romano e encontrou-se aquele que é, até agora, o maior templo da Península Ibérica, com cerca de trinta metros de comprimento e vinte de altura, rodeado por um grande tanque, semelhante aos encontrados nas cidade de Sevilha e Barcelona.

A colónia Pax Julia, elevada a cerca de 260 metros ao nível das águas do mar, dominou todo um vasto território rico em recursos mineiros, como por exemplo as minas de Vipasca (Aljustrel), e em recursos agrícolas. À volta da cidade encontram-se, ainda hoje, os famosos "barros de Beja", terras das mais férteis do país. Por conseguinte, foi nesta região que se desenvolveram importantes explorações agrícolas – as Villae – que correspondem, grosso modo, aos actuais montes alentejanos. A villa romana de Pisões era uma dessas explorações agrícolas que rodeavam a cidade romana. Escavações arqueológicas descobriram uma enorme villa do século I e abandonada no século IV. Estas escavações permitiram pôr a descoberto uma vasta área residencial, com mais de 40 salas, um conjunto balneário composto por piscinas aquecidas através de um complexo hipocausto, e recolher um vasto espólio formado por cerâmica comum, terra sigillata, mosaicos, objectos em ferro, bronze, osso, moedas, material arquitectónico e lapidar.

Actualmente, podemos encontrar no Museu Regional de Beja alguns dos testemunhos deste período da nossa História: os imponentes capitéis romanos com paralelo na cidade de Roma, capital do império, e um vasto espólio composto por lápides, aras votivas, diversos elementos arquitectónicos, mosaicos, vidros, frescos, cerâmicas, e um sem número de objectos do quotidiano que testemunham o esplendor daquela civilização, que também é a nossa, e da qual podemos encontrar, hoje, testemunhos na língua que falamos, no traçado das ruas de cidades e estradas, nas fachadas dos edifícios e, ainda, no Direito e na Lei. Os autores patentes nesta exposição remetem-nos para o imaginário deste período. Através das suas pranchas, de matriz histórica, não se limitam a desenvolver um conjunto de histórias em torno das suas personagens e aventuras, mas dão-lhe também toda uma dimensão trágica e/ou cómica no desenvolvimento relacional das suas personagens com o mundo e a sociedade em que vivem e, ao mesmo tempo, um rigor ao nível do desenho clássico, na reconstituição fiel das cidades, da arquitectura, dos trajes, dos objectos, das armas, etc. Vejam-se, por exemplo, as pranchas de Jacques Martin, na série Alix e de Uderzo e Goscinny, nas aventuras de Astérix o gaulês...

Nota: Texto alusivo à exposição "Os Romanos na Banda Desenhada" que esteve patente no Museu Regional de Beja - Igreja de Santo Amaro.